top of page

Arroio Grande

 

     E, de repente, uma interrupção brusca, uma quebra no fluxo contínuo do ir e vir automatizado. Uma cidade desconhecida. Uma parada no tempo ou, quem sabe, um retorno no tempo. A imagem da cidade onde vivi minha infância estava ali, parada diante de mim. Agora para ser vista, fruída no tempo que sempre mereceu e nunca havia me permitido fazê-lo.

     A paisagem que poderia ser só de mais um povoado do interior, visto da janela de um carro em alta velocidade, agora assume o protagonismo. Ela conduz, ela dita o ritmo do caminhar, do olhar, ela deixa-se reconhecer e me permite revisitar minhas lembranças.

     Todas aquelas fachadas junto às calçadas, sem jardins ou recuos. As platibandas altas e baixas, janelas pequenas e grandes, quadradas e redondas, as cores desbotadas. Uma cidade fechada, sem espaços para ser penetrada, ensimesmada, silenciosa, que só parece mostrar tudo. Sinto que ela também me observa, e parece não reconhecer alguém que não é mais do seu tempo.

bottom of page