Se um viajante
Além do convívio social, o isolamento por conta da pandemia, para quem teve esta possibilidade, também inviabilizou as vivências visuais diárias. Não era mais possível ver as pessoas se movimentando na rua, a grama crescendo nos parques ou o trânsito a caminho do trabalho. A experiência visual deste período, para quem permaneceu em casa, foi sempre mediada por algum aparato tecnológico: televisão, telefone, computador. Mas, mais que isso, ela foi dirigida por alguém. Alguém apontava a câmera e dirigia a cena. Não escolhíamos o que ver, nem tampouco o ponto de vista. Estávamos submetidos a enxergar o mundo pelos olhos dos outros, pelos interesses dos outros, pela maneira como os outros percebem o que está ao seu redor.
Este trabalho é uma busca para explorar os acontecimentos destes dias para além das imagens midiáticas.
A partir de plataformas que disponibilizam o acesso a milhares de câmeras de segurança espalhadas pelo mundo, que possuem basicamente funções de segurança e monitoramento, portanto instaladas e posicionadas sem uma intenção estética ou política, tento, como um viajante curioso, explorar o que está acontecendo do lado de fora da minha casa, a vida cotidiana espalhada pelo mundo, sem o espetáculo televisivo.